Infecções hospitalares por bactérias multirresistentes matam três doentes por dia
26/06/2018“Estamos a tratar muitas situações de infecção com antibióticos antigos que tínhamos deixado de usar porque são tóxicos, imprevisíveis no seu efeito e na sua acção”, diz especialista.
As infecções hospitalares por bactérias multirresistentes causam três mortes por dia em Portugal, ou mais de 1100 por ano, estimou nesta terça-feira um especialista, salientando que este problema deve preocupar todos, dos profissionais aos utentes.
“Números que já temos de estudos europeus e números que estão para sair nos próximos meses apontam para que, provavelmente, em Portugal, mais ou menos três pessoas por dia possam falecer por infecções por micro-organismos por bactérias multirresistentes, a nível hospitalar”, afirmou o coordenador do grupo local do Programa de Prevenção e Controlo de Infecções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA) do centro hospitalar Barreiro-Montijo.
Paulo André Fernandes, que falava à agência Lusa à margem de um encontro com jornalistas sobre este tema, transmitiu preocupação já que o problema das bactérias resistentes aos antibióticos, nas suas principais facetas, “continua a agravar-se”.
“Embora haja aspectos pontuais onde tenha havido evoluções positivas, há uma série de aspectos, nomeadamente os que têm a ver com as bactérias com resistências mais perigosas e resistentes a antibióticos de mais largo espectro, que continua a agravar-se”, apontou o antigo director do PPCIRA.
A má utilização dos antibióticos, nomeadamente para situações em que não são necessários ou não são os mais indicados para a doença em causa, levou a que as bactérias fiquem mais resistentes, mais fortes, reduzindo as soluções eficazes para resolver estas infecções.
“Estamos a tratar muitas situações de infecção com antibióticos antigos que tínhamos deixado de usar porque são tóxicos, imprevisíveis no seu efeito e na sua acção”, referiu Paulo André Fernandes.
No entanto, já existem “novos antibióticos menos tóxicos, mais previsíveis e mais eficazes e precisamos que sejam libertados [em Portugal], como já aconteceu em toda a Europa e em grande parte do mundo civilizado”, acrescentou.
Para o especialista, justifica-se a preocupação por parte de todos os agentes da saúde e da sociedade em geral, ou seja, da tutela ao utente, passando pelos médicos e farmacêuticos.
Embora também afecte os pacientes que estão em casa, este problema incide no ambiente hospitalar com “particular gravidade”, descreveu.
É nos hospitais que “estão os agentes mais resistentes e que provocam infecções mais graves, mas é um problema transversal, incide sobre o hospital como incide na comunidade, incide sobre os mais velhos como sobre as crianças, portanto é um problema que diz respeito à comunidade em geral”, realçou o médico.
Grande parte das pessoas internadas nos hospitais têm doenças que diminuem a sua imunidade como é o caso dos doentes submetidos a quimioterapia ou a cirurgias muito agressivas, os internados em medicina intensiva ou os bebés ‘grandes prematuros’.