Eventos adversos nos internamentos aumentam risco de morte e custam 100 milhões de euros
19/02/2018Em 6% dos internamentos ocorre pelo menos um evento adverso como é revelado num estudo que avaliou os registos dos internamentos hospitalares de todos os hospitais públicos nacionais entre 2000 e 2015. Tanto em Portugal como a nível internacional, a frequência de eventos adversos aumentou substancialmente. Envelhecimento da população e maior rigor dos profissionais de saúde no registo destas ocorrências ajudam a explicar o fenómeno.
Um estudo realizado nos hospitais públicos nacionais revelou que em 6% dos internamentos ocorre pelo menos um evento adverso, uma situação que se associa a um aumento de 5% para 7% do risco de morte hospitalar desses doentes.
Estas situações, de acordo com a investigação a que a Lusa teve hoje acesso, custam ao Serviço Nacional de Saúde “mais de 100 milhões de euros por ano”.
Desenvolvido pelo CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e publicado no Journal of Medical Systems, o trabalho teve como objectivo avaliar a frequência e o impacto dos eventos adversos nos doentes internados em Portugal.
A equipa liderada por Alberto Freitas, especialista em análise de dados na área da Saúde do CINTESIS, avaliou os registos dos internamentos hospitalares de todos os hospitais públicos nacionais entre 2000 e 2015.
As conclusões revelaram que a frequência de eventos adversos aumentou substancialmente de 2,3% para 8%, entre 2000 e 2015.
“Registaram-se mais de 500 mil complicações inesperadas a procedimentos médicos, seguindo-se as reacções a medicamentos (279 mil). Os erros resultantes da prestação de cuidados de saúde por parte dos profissionais de saúde são os menos frequentes (apenas 90 mil ocorrências ao longo dos 16 anos do estudo)”, lê-se na investigação.
Alberto Freitas esclarece que “a nível internacional também se regista um aumento dos eventos adversos” e aponta duas possíveis explicações para este fenómeno: “por um lado, os profissionais de saúde estão mais rigorosos no registo destas ocorrências e, por outro, assiste-se efectivamente a um crescimento dos eventos adversos, e isso pode acontecer por várias razões, como o envelhecimento da população”.
Neste trabalho, os autores perceberam que existem, de facto, factores que se associam a um maior risco de sofrer um evento adverso.
“A idade mais avançada e a coexistência de várias doenças são dois dos facores que podem potenciar a ocorrência de um evento adverso, quer seja uma falha decorrente da acção de um profissional de saúde, uma complicação inesperada ou uma reacção medicamentosa”, refere, em comunicado, Bernardo Sousa Pinto, investigador do CINTESIS e primeiro autor deste trabalho.
Os resultados mostraram também que os pacientes que sofreram um evento adverso ficam internados o dobro dos dias por comparação com os pacientes cujo internamento decorreu dentro da normalidade.
“No total, entre 2000 e 2015, foram registados 5 milhões de dias de internamento adicionais que em parte podiam ter sido evitados”, explica o investigador Bernardo Sousa Pinto.
No âmbito deste trabalho, foi ainda possível estimar os custos financeiros associados a estas ocorrências. Enquanto, num internamento normal, os custos medianos são de 1760 euros, nos internamentos que registam eventos adversos ultrapassam-se os 3 mil euros.
Alberto Freitas acrescenta que, entre 2000 e 2015, os eventos adversos associaram-se a aumentos na factura do Sistema Nacional de Saúde em 1700 milhões de euros.
Este trabalho insere-se num projecto mais alargado, desenvolvido pelo CINTESIS, que visa extrair informação relevante dos dados recolhidos diariamente pelos hospitais públicos portugueses.
Além de Alberto Freitas e Bernardo Sousa Pinto, o estudo contou com a colaboração dos investigadores Bernardo Marques e Fernando Lopes.
O CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde é uma Unidade de Investigação e Desenvolvimento (I&D) cuja missão é encontrar respostas e soluções, no curto prazo, para problemas de saúde concretos, sem nunca perder de vista a relação custo/eficácia. Sediado na Universidade do Porto, o CINTESIS beneficia da colaboração das Universidades Nova de Lisboa, Aveiro, Algarve e Madeira, bem como da Escola Superior de Enfermagem do Porto.